Funcionários terceirizados da Enel são flagrados fazendo dancinha na Av. Paulista no meio da crise de energia em SP
14/12/2025
(Foto: Reprodução) Funcionários terceirizados da Enel são flagrados fazendo dancinha na Avenida Paulista
No meio da crise de abastecimento de energia que a Grande São Paulo enfrenta desde quarta-feira (10), técnicos de uma empresa terceirizada da concessionária Enel foram flagrados na última sexta-feira (12) dançando em plena a Avenida Paulista, no Centro de São Paulo.
O flagrante foi registrado às 10h da amanhã, em frente ao Masp e ao Parque Trianon, por pedestres que passavam no local. Eles viram três rapazes com o uniforme escrito “a serviço da Enel” gravando um vídeo de fim de ano para a empresa STN, terceirizada da companhia de energia.
Ao fundo é possível ouvir uma música com os dizeres: “segurança é nossa missão, dedicação sem fim, sem razão. Trazendo aos clientes um presente para as famílias, vida decente”.
Após as imagens ganharem as redes sociais, a STN veio a público “lamentar o ocorrido” fora de hora, onde mais de 2,2 milhões de pessoas chegaram a enfrentar a falta de energia na região de concessão da Enel nesta semana.
A STN reconheceu a "inadequação do contexto diante da situação enfrentada na cidade de São Paulo" e afirmou que providências foram tomadas pela empresa.
Funcionários terceirizados da Enel são flagrados dançando na Avenida Paulista, no Centro de SP, em plena crise de energia que se arrasta por cinco dias.
Reprodução/Redes Sociais
“As imagens foram gravadas no contexto de uma captação de conteúdo interno de fim de ano da STN, por fornecedor contratado, e não envolvia profissionais que atuavam em atividades operacionais da Enel”, disse a terceirizada.
“A STN tomou conhecimento do material apenas após sua circulação nas redes sociais e lamenta o ocorrido. A companhia reconhece a inadequação do contexto diante da situação enfrentada na cidade de São Paulo. As devidas providências já estão sendo adotadas internamente”, afirmou.
A Enel foi procurada na sexta-feira (12) pela reportagem do g1 e disse que a gravação não tinha sido feita pela companhia.
Decisão Judicial
Justiça manda Enel religar energia imediatamente para quem foi prejudicado com o apagão
A crise de energia na Grande SP chegou ao 5° dia neste domingo (14). Segundo o balanço divulgado pela Enel, até às 6h49, cerca de 176 mil endereços na região de concessão da empresa ainda estavam sem energia elétrica.
Na capital eram pelo menos 134 imóveis sem luz, passados cinco dias do megavendaval que atingiu a região na madrugada e manhã da última quarta (10).
Na noite de sexta-feira (12), a Justiça de São Paulo determinou que a concessionária restabeleça imediatamente o fornecimento de energia para os consumidores afetados pelo apagão que atinge a capital paulista e a região metropolitana.
A decisão também prevê multa de R$ 200 mil por hora em caso de descumprimento.
Segundo balanço das 11h30 deste sábado (13), há ainda 341 mil imóveis na Grande São Paulo às escuras em razão do vendaval que atingiu a região desde quarta (10) e provocou quedas de árvores, cancelamentos de voos e desligamento de semáforos, causando inúmeros transtornos à população. Só na cidade de São Paulo, cerca de 239 mil continuam sem luz. No pico, na quarta, foram mais de 2,2 milhões de clientes à luz de velas.
A medida judicial passa a valer após a empresa ser comunicada da decisão. Procurada, a Enel SP informou que ainda não foi intimada da decisão e "segue trabalhando de maneira ininterrupta para restabelecer o fornecimento de energia ao restante da população que foi afetada pelo evento climático".
A decisão determina a religação em até quatro horas para as seguintes situações e locais:
Unidades hospitalares e serviços de saúde;
Eletrodependentes cadastrados junto à concessionária, cuja vida depende do fornecimento contínuo;
Instituições públicas essenciais, como delegacias, presídios e equipamentos de segurança;
Creches, escolas e espaços coletivos, especialmente em razão da realização de vestibulares e provas;
Sistemas de abastecimento de água e saneamento, como instalações da Sabesp e condomínios com bombas elétricas;
Locais que concentram pessoas vulneráveis, como idosos e pessoas com deficiência.
Para todas as demais unidades consumidoras não listadas na relação acima, o religamento da energia tem que acontecer no prazo máximo de 12 horas a contar da notificação da Enel.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) e a Defensoria Pública do Estado tinham ingressado na sexta com essa ação contra a Enel por causa do apagão após o vendaval.
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Jornal Nacional/ Reprodução
Relatório de interrupções
Na ação, o MP e a Defensoria também pediram que a concessionária apresente um relatório detalhado sobre as interrupções, incluindo a lista de unidades afetadas.
Segundo a petição, divulgada pelo Núcleo Especializado de Defesa do Consumidor (Nudecon), o serviço prestado pela concessionária apresenta falhas recorrentes há anos e não atende aos deveres de adequação, eficiência e continuidade.
Os órgãos afirmam que, além da interrupção prolongada, a Enel falhou na prestação de informações claras sobre a previsão de restabelecimento.
A ação destaca ainda que chuva e ventos não podem ser tratados como fatores "extraordinários" ou "imprevisíveis" a ponto de afastar responsabilidade, e que a empresa deve ter estrutura para prevenir e mitigar danos, especialmente em períodos do ano em que esse tipo de evento é comum.
A coordenadora do Nudecon, defensora pública Estela Waksberg Guerrini, reforça a importância de reunir provas sobre possíveis danos causados pela falta de energia.
Orientação prática: guardar provas, como documentos e fotos dos danos causados pelo tempo em que o consumidor ficou sem energia. Guardar nota fiscal de compras para pedir indenização por dano material.
Ela também recomenda que situações específicas — como dificuldades de mobilidade agravadas pela falta de elevador — devem ser documentadas.
Entre os dias 10 e 12, o Procon-SP registrou 534 reclamações contra a Enel, sendo 371 relacionadas a problemas causados pelo vendaval que atingiu o estado.
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Histórico de ações
Esta não é a primeira vez que a Enel é acionada judicialmente pelos órgãos de defesa do consumidor. Em dezembro de 2023, Defensoria e MP ingressaram com outra ação civil pública após entenderem que houve prestação inadequada e descontinuada do serviço durante a interrupção de energia registrada em novembro daquele ano.
A ação pediu indenização por danos materiais tanto para consumidores afetados naquele episódio quanto em futuros eventos climáticos, evitando que cada pessoa precisasse acionar a Justiça individualmente.
O processo, porém, está suspenso após decisão da Presidência da Seção de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que aguarda manifestação do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre o pedido da Aneel para ingressar como assistente da Enel.